Passou a greve, e voltamos. Apesar de apoiarmos a iniciativa de vários colegas em não permitir o esvaziamento da universidade durante a paralisação, com palestras e debates, decidimos interromper a publicação normal da Folha durante este período. Não tínhamos acesso à infraestrutura necessária para a publicação e, mais importante, achamos que o clima que havia na universidade durante os três meses de greve não era exatamente o mais propício para seguir as discussões que gostaríamos de levantar em nossas edições normais.
Por isso mesmo, elaboramos em junho uma edição especial de greve. Temos a pretensão de fazer parte da vida normal do ICHF – sendo assim, não poderíamos nos abster de procurar levar a nossos leitores pontos de vista sobre o movimento que afetou de forma tão profunda nossa vida como alunos.
Agora voltamos à vida normal. Tínhamos a presente edição pronta desde maio: por isso alguns assuntos, como a formação Comissão da Verdade (que data de maio), e as revoadas de mosquito que aparecem anualmente no Gragoatá (a última também foi em maio) figuram tão proeminentemente entre os artigos. Não achamos que estes assuntos caducaram; as discussões que introduzimos ou continuamos aqui estão tão vivas quanto antes, e os mosquitos não tardam em voltar.
Somos realmente pretensiosos. Prova disso é nossa mudança de formato. Resolvemos deixar de ser apenas a folhinha do Gragoatá para tornarmo-nos de fato uma Folha do Gragoatá, com um espaço respeitável. Vamos preenchendo-o, aos poucos: nesta edição temos dois artigos interessantes de intelectuais discutindo assuntos dos quais fazem parte.
Daniel Aarão Reis, professor de História Contemporânea da UFF, participou ativamente da luta contra a ditadura militar de 1964. Hoje ele nos traz sua opinião sobre a quantas anda (ou andava, em maio) a Comissão da Verdade –órgão criado pelo governo federal para “examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas” no período da ditadura (na verdade, uma lei complementar coloca o período sobre o qual se debruçará a Comissão como desde 18 de setembro de 1946 até a promulgação da Constituição de 1988).
Já Ronaldo Vainfas, professor de História Moderna em nossa universidade, nos insere no cerne de um debate que tem movido o departamento de História. Respondendo a um posicionamento do professor Ciro F. Cardoso, ele argumenta a favor do que chama de reconstrucionismo, defendendo que, ao contrário do que diz Cardoso, uma maior valorização de evidências documentais não é algo que está preso na historiografia do século XIX. O que torna esta discussão ainda mais interessante é o fato destes dois historiadores terem recentemente organizado, juntos, Novos Domínios da História, livro de metodologia que busca atualizar o mapeamento das principais posições historiográficas de hoje (este volume surge como uma continuação de Domínios da História, publicado em 1997).
A partir desta edição, decidimos abrir um pouco mais nosso leque de contribuidores. Pensamos: somos um jornal que visa, em alguma medida, a atender anseios literário-intelectuais ICHFianos (ok, talvez sejamos um pouco petulantes). Interessa-nos ler estudantes de Letras. Interessa-nos ler poesias de alunos de Ciências Sociais. E por que não um conto, quase sonho, de um aluno de matemática (na próxima edição)?●
Nenhum comentário:
Postar um comentário