Agora escrevo
letras que talvez não sejam letras no sentido tradicional, ou melhor, no
sentido menos tradicional do termo letras, ou seja, aquele de letras a, b, c,
d, etc, o sentido tradicional das letras, eu escrevo no outro sentido, digo,
não o das letras de música, essas amor dor terror pudor horror, mas essas a, b,
c, d, e as escrevo porque estou em
Paris, morando em minha primeira semana nesta terra que chamo Paris, que não é
Páris, o do épico grego, que talvez tenha outro nome, mas não me lembro bem,
mas Paris a cidade-luz ironicamente a cidadessubterrâneo, de acordo com o novo
acordo gramatical que diz que o hífen deve morrer, e que vale a supremacia da
letra dupla quando se trata de “r” ou ass(e), mas é mesmo assim a
cidadessubterânea porque tem um, não, porque tem vários subterrâneos, tem suas
catacumbas, que tem cadáveres e originaram o gótico, não o gótico arquitetônico,
mas o gótico da zuera, ou seja, o gótico do pessoal da década de setenta que
gostava de beber e vivia em Paris, no subterrâneo, e teve até salas de cinema
no subterrâneo de Paris, aquela que tem um outro subterrâneo, o metrô, que é
mais comum e extremamente subterrâneo, diferente das catacumbas, que são um
pouco incomuns, porque a maior parte delas foi fechada e hoje em dia só há
alguns quilômetros de catacumba aberta, mas em compensação há muitos
quilômetros de metrô que podemos usar, assim como os góticos também usam, mas
hoje em dia não está tão na moda, não o metrô, mas ser gótico não no sentido do
gótico arquitetônico, como já disse, mas desses que gostavam de beber nas
catacumbas de paris na década de setenta, na verdade a ideia de
cidadessubterrânea veio do Jean, o Jean é um amigo meu que é filósofo, mas na
verdade e na origem também é músico, apesar de ser um bom filósofo, digo, é o
que ele diz eu não conheço de filosofia, mas parece que ele realmente é um bom
filósofo, é um cara com muitas referências e que consegue citar muitas coisas e
que tem muitos pontos bons sobre muitas coisas e que me ensinou muita coisa
interessante sobre a área dele que é a ontologia que é uma área muito boa digo
muito maneira digo uma área muito interessante da filosofia é a área que trata
do essencial das coisas mas não sei se eles usam o termo essencial talvez seja
coisa de outra linha da filosofia essa do essencial que talvez não seja a do
Jean que é meu amigo que mora não morou em Paris faz um tempo e me disse que
quando falam que tem um beliche na real são duas mesas uma em cima da outra ele
é um cara muito sábio mas Paris é uma cidade complicada mas o Jean disse que
Paris é uma cidadessubterrânea numa conversa comigo e numa gravação que ele fez
num porão no qual morou mas não mora mais apesar de já ter morado e não ter
gostado o que importa é que fiquei com a ideia de cidadessubterrânea na cabeça
e ela me vem à mente toda vez que penso em Paris e que ando de metrô e que fico
sem espaço●
Claudio Cabral é graduando em música pela Universidade Paris VIII
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