Sem que esta fosse
nossa intenção, a edição deste mês tem um tema que a perpassa. Rogério
Haesbaert e Marcos Nobre escreveram
sobre o que talvez seja, desde as manifestações de junho do ano passado, o tema
mais importante para as Ciências Humanas no Brasil. Vivemos um dos poucos
momentos na História do Brasil em que parece que temos o poder de moldar a
sociedade em que vivemos.
Haesbaert, professor
da Geografia da UFF, escreve sobre um dos instrumentos de “organização
científica” da sociedade, o Centro de Controle de Operações da prefeitura do
Rio. O Centro, defende, é evidência de um projeto de cidade que vê como mais
importantes as situações excepcionais pelas quais o Rio passará ,em especial os grandes eventos; e que coloca
mais ênfase nas situações de exceção, ou “crises” e sua pronta resolução. Seu
artigo, portanto, discute um dos projetos de moldar a sociedade, que
(infelizmente) tem grande poder e influência no caso do munícipio do Rio.
Este projeto parece
ter sido criado, em parte, para conter as formas de política que pedem por
outros projetos: encara eventos como as grandes manifestações do ano passado
como as “crises” que deve solucionar (seja lá o que isso queira dizer).
Já Marcos Nobre, professor
de Filosofia da UNICAMP, escreveu motivado por uma frase que se tornou comum:
“Não aconteceu nada em junho”. As manifestações, tendo sido esvaziadas por
diversos motivos (entre os mais discutidos, a violência da polícia e de
manifestantes mais radicais, a grande divergência das reivindicações, a
inexistência de uma liderança... ), não teriam nenhuma consequência concreta,
dizem seus críticos de hoje. Muitos dos que dizem isso estiveram na Rio Branco,
na Presidente Vargas, e no Palácio Guanabara, e o fato de não mais se
identificarem com seu próprio entusiasmo da época os faz ainda mais
pessimistas.
Nobre tenta algo
corajoso: para ele não só de fato “aconteceu” algo como o que aconteceu foi uma
mudança radical na democracia brasileira. Tratou-se de uma rejeição sistemática
do que chama de “pemedebismo”, ou a criação de unidades políticas forçadas em
nome de uma governabilidade. O Junho de 2013, para Nobre, representou o povo
brasileiro exigindo a volta da polarização política verdadeira, e quem sabe o
novo jogo de alianças que aos poucos se delineia para as próximas eleições seja
exatamente reflexo disso.
Na nossa seção
dedicada aos alunos, o tema reaparece. A fantástica crônica de Breno Góes trata
das manifestações, pela primeira vez entre todos os textos que li que as tem
como objeto, com humor. Não anteciparei nada para não roubar do texto sua engenhosidade.
E, para fugir um pouco de junho, incluímos também os desenhos mais
introspectivos de Camila Pizzolotto, cujo traço é formidável. Aqui, na edição online
da Folha, os temos em maior quantidade, vale a pena clicar.
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