Era seu primeiro dia no novo emprego – segurança noturno no Museu C-- O-- na cidade de F--. M. Onnel não se considerava um especialista em arte, mas o que já tinha visto foi suficiente para que uma breve olhadela em “Sarabande” lhe dissesse que alguma
coisa não estava certa.
“Sarabande”, por Jean-Michel Armagnac, ocupava a posição de obra mais importante da cidade. Datada do século XVI, mostrava a avó do pintor, vestida com suas melhores roupas – um vestido vermelho, um colar de pérolas... Mas o que poderia surpreender eram seus olhos. Não se podia dizer com certeza que cor tinham: uma mistura de azul e verde, com uma luz avermelhada. Um efeito inexplicável.
“Sarabande”, por Jean-Michel Armagnac, ocupava a posição de obra mais importante da cidade. Datada do século XVI, mostrava a avó do pintor, vestida com suas melhores roupas – um vestido vermelho, um colar de pérolas... Mas o que poderia surpreender eram seus olhos. Não se podia dizer com certeza que cor tinham: uma mistura de azul e verde, com uma luz avermelhada. Um efeito inexplicável.
Mas M. Onnel, em sua primeira ronda noturna das galerias, não podia ver os olhos que orgulhavam a cidade. Eles não estavam lá. De fato, a velha senhora tinha desaparecido, e a pintura tinha virado uma paisagem.
...
M. Onnel entrou em choque. Não é que tivesse grande consideração por esta obra em especial, mas sabia que ele não sobreviveria ao escândalo que chegaria no dia seguinte. Ele estava sozinho no museu; o diretor, a polícia, a imprensa – ah, meu Deus, a imprensa
que matou Diana – todos virão em cima de mim.
Sem reação possível, M. Onnel se pôs a tentar entender o que tinha acontecido com a velha avó que, depois de 400 anos, decidiu ir-se justamente no seu primeiro dia de trabalho.
Sem reação possível, M. Onnel se pôs a tentar entender o que tinha acontecido com a velha avó que, depois de 400 anos, decidiu ir-se justamente no seu primeiro dia de trabalho.
Olhou o quadro de todas as maneiras possíveis: de perto, de longe, de um lado, de outro... Fracasso. Não havia como descobrir onde poderia estar a madame Sarabande.
Finalmente, tomou uma decisão que, normalmente, é a primeira interdição inculcada nos guardas de museu: decidiu tocar o quadro. Estava realmente desesperado.
...
No dia seguinte, quando o curador chegou ao museu, surpreendeu-se por não conseguir encontrar M. Onnel. Era o primeiro dia de M. Onnel: o curador suspirou. Não queria demitir seu genro.
Como em todas manhãs, o curador foi ver “Sarabande”. Considerava esta obra a mais importante da Renascença em F--; estava também secretamente apaixonado pela avó do pintor, representada no quadro.
Quando chegou na sala de “Sarabande”, o curador desmaiou. A velha senhora não fazia mais parte do quadro; em seu lugar estava pintado M. Onnel, sua face deformada por um grito de dor.
Como em todas manhãs, o curador foi ver “Sarabande”. Considerava esta obra a mais importante da Renascença em F--; estava também secretamente apaixonado pela avó do pintor, representada no quadro.
Quando chegou na sala de “Sarabande”, o curador desmaiou. A velha senhora não fazia mais parte do quadro; em seu lugar estava pintado M. Onnel, sua face deformada por um grito de dor.
Antonio Kerstenetzky graduou-se em História pela UFF
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