O artigo mais provocativo desta primeira edição de 2014 é
assinado por Victor Tiribás, mestrando em Ciência Política. Victor abordou o
que talvez seja a instituição mais ambígua dentro da UFF: a BCG, ou Biblioteca
Central do Gragoatá. É ambígua porque submete seu usuário ao mesmo tempo a
experiências de primeiro mundo e, mais frequentemente, a ter uma grande
sensação de desamparo e desconforto.
A BCG, por exemplo, conta com
uma impressora que imprime em Braille e um scanner capaz de reconhecer
caracteres e “ler” o texto em voz alta, gerenciados por uma equipe dedicada a
usuários com necessidades especiais. Seu amparo aos estudantes com deficiências
visuais, portanto, é excelente. Além disso, coleções online como o JSTOR e
dezenas de milhares de livros foram recentemente comprados. Por outro a
biblioteca é desconfortável, contando com apenas duas poltronas num lugar de
passagem; é também barulhenta, com os locais de estudo misturados aos locais de
trabalho dos bibliotecários e as estantes; e é, de forma geral, muito pouco
convidativa. Além disso, a maior parte dos livros de ciências humanas estão
riscados, caindo aos pedaços ou ambos; isso quando eles de fato se encontram na
estante.
Victor entrevistou, para
produzir o artigo, Gizlene Neder, que foi presidente da comissão da biblioteca.
A entrevista se deu em 2012; vamos procurar os novos responsáveis pela comissão
para publicar, posteriormente, informações mais atualizadas. De qualquer forma,
os problemas que discute, tanto os óbvios quanto os mais escondidos, soam
absurdos quando se sabe que o orçamento da UFF para 2014, segundo recente
reportagem de O Globo, é de 1,4 bilhão de reais, o que equivale a quase 80% do
orçamento da prefeitura de Niterói, uma cidade de mais de 500 mil habitantes com
um dos maiores IDHs do país. No blog da Folha disponibilizamos a entrevista da
professora Gizlene, na íntegra.
Uma rápida palavra sobre nossos
dois professores convidados: Fernando Muniz, um dos mais importantes estudiosos
de Platão do Brasil e professor da UFF, discute, em seu artigo, os vários
ataques a Platão durante a História da Filosofia. Sua perspectiva, claro, é de
um plantonista apaixonado. De qualquer forma, seus argumentos são persuasivos.
O artigo pode parecer exótico aos não iniciados na filosofia; mesmo assim,
também a estes o recomendaria, pelo menos como entrada na história da
filosofia.
Já Ronald Raminelli é um dos
grandes pesquisadores da Idade Moderna que temos. Pedimos um artigo a ele
pensando especialmente em sua habilidade, que o distingue como historiador, de
transformar extensa pesquisa em arquivos em análises abrangentes sobre a
sociedade do Antigo Regime. No artigo que publicamos, Raminelli consegue, a
partir de um documento da câmara do Rio do século XVIII, iluminar a importância
que se dava naquela época a qualquer título que aumentasse o status de seu
portador. Algumas pessoas chegavam a forjar comendas, e, como consequência,
para elas era mais fácil fechar negócios, como mostra.
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