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domingo, 23 de março de 2014

Carta do Editor

O artigo mais provocativo desta primeira edição de 2014 é assinado por Victor Tiribás, mestrando em Ciência Política. Victor abordou o que talvez seja a instituição mais ambígua dentro da UFF: a BCG, ou Biblioteca Central do Gragoatá. É ambígua porque submete seu usuário ao mesmo tempo a experiências de primeiro mundo e, mais frequentemente, a ter uma grande sensação de desamparo e desconforto.
A BCG, por exemplo, conta com uma impressora que imprime em Braille e um scanner capaz de reconhecer caracteres e “ler” o texto em voz alta, gerenciados por uma equipe dedicada a usuários com necessidades especiais. Seu amparo aos estudantes com deficiências visuais, portanto, é excelente. Além disso, coleções online como o JSTOR e dezenas de milhares de livros foram recentemente comprados. Por outro a biblioteca é desconfortável, contando com apenas duas poltronas num lugar de passagem; é também barulhenta, com os locais de estudo misturados aos locais de trabalho dos bibliotecários e as estantes; e é, de forma geral, muito pouco convidativa. Além disso, a maior parte dos livros de ciências humanas estão riscados, caindo aos pedaços ou ambos; isso quando eles de fato se encontram na estante.
Victor entrevistou, para produzir o artigo, Gizlene Neder, que foi presidente da comissão da biblioteca. A entrevista se deu em 2012; vamos procurar os novos responsáveis pela comissão para publicar, posteriormente, informações mais atualizadas. De qualquer forma, os problemas que discute, tanto os óbvios quanto os mais escondidos, soam absurdos quando se sabe que o orçamento da UFF para 2014, segundo recente reportagem de O Globo, é de 1,4 bilhão de reais, o que equivale a quase 80% do orçamento da prefeitura de Niterói, uma cidade de mais de 500 mil habitantes com um dos maiores IDHs do país. No blog da Folha disponibilizamos a entrevista da professora Gizlene, na íntegra.
Uma rápida palavra sobre nossos dois professores convidados: Fernando Muniz, um dos mais importantes estudiosos de Platão do Brasil e professor da UFF, discute, em seu artigo, os vários ataques a Platão durante a História da Filosofia. Sua perspectiva, claro, é de um plantonista apaixonado. De qualquer forma, seus argumentos são persuasivos. O artigo pode parecer exótico aos não iniciados na filosofia; mesmo assim, também a estes o recomendaria, pelo menos como entrada na história da filosofia.
Já Ronald Raminelli é um dos grandes pesquisadores da Idade Moderna que temos. Pedimos um artigo a ele pensando especialmente em sua habilidade, que o distingue como historiador, de transformar extensa pesquisa em arquivos em análises abrangentes sobre a sociedade do Antigo Regime. No artigo que publicamos, Raminelli consegue, a partir de um documento da câmara do Rio do século XVIII, iluminar a importância que se dava naquela época a qualquer título que aumentasse o status de seu portador. Algumas pessoas chegavam a forjar comendas, e, como consequência, para elas era mais fácil fechar negócios, como mostra.



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