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segunda-feira, 28 de maio de 2012

A Educação que queremos



Por William Alexandre, aluno de História na UFF e militante da União da Juventude Comunista

O Sistema Educacional Brasileiro como um todo passa por um momento de intensa precarização consentida e dirigida pelo governo federal. Em âmbito universitário isso se manifesta sobretudo como consequência da implantação do REUNI desde 2007. O REUNI amplia as vagas oferecidas pelas Universidades sem adequação da infraestrutura e o resultado é a situação calamitosa em que elas se encontram: insuficiência de bandejões, bolsas, bibliotecas, salas de aula, moradias estudantis, professores, técnicos administrativos, dentre tantos outros problemas. Há casos ainda mais graves nos campi do interior, onde os alunos são obrigados inclusive a assistir aula em containers.

Este ano o governo descumpriu o acordo que visava à reestruturação do plano de carreira e a melhora das condições de trabalho. Em matéria de capa publicada recentemente, o jornal O Globo constatou que, dentre todos os profissionais de nível superior, os professores são os que têm o piso-salarial mais baixo. Isso, para o país que é hoje a quinta maior economia do mundo é, no mínimo, uma vergonha. A greve foi o caminho inevitável para denunciar à sociedade o descaso do governo e para lutar pela reversão desse quadro.

Apesar do amplo apoio à greve, há ainda professores que não aderiram, alguns inclusive fazendo campanha contra ela. Há basicamente duas razões para isso. O primeiro caso é o dos professores em estágio probatório e os contratados, que vêm sendo alvo de assédio moral, e recebem reiteradas ameaças de demissão caso resolvam aderir à greve. O segundo é o dos professores para os quais a precarização é conveniente. Estes, que em grande maioria já atingiram o topo da carreira, não raramente dividem a dedicação exclusiva ministrando cursos pagos, que chegam a dez mil reais o semestre. Eles utilizam toda a estrutura pública para favorecer a iniciativa privada, e continuam existindo apesar de 88% da comunidade acadêmica ter se posicionado contra, em plebiscito realizado em 2010. Tristemente, tais doutores não estão preocupados com a qualidade do nosso ensino.

Os estudantes, entendendo que as reivindicações dos docentes são não apenas justas como também comuns às suas, apoiaram a greve e deflagraram a greve estudantil. No caso da UFF, temos reivindicações específicas. Reforçamos a pauta conquistada após a ocupação da reitoria no ano passado e em grande parte não cumprida – como o término da construção da moradia estudantil e dos novos prédios, contratação de professores e técnicos administrativos, aumento da quantidade de bolsas, construção de mais bandejões, especialmente para os campi do interior – bem como incorporamos novas reivindicações, por exemplo, a equiparação das bolsas ao salário mínimo.

Foi realizado na UFF, na última quarta-feira, um piquete imprudente e autoritário. Não foi decisão da Assembleia Estudantil, muito menos do Comando de greve, mas atitude deliberada de um grupo autointitulado anarquista que, em nome da “liberdade” e do “direito de autorrepresentação”, promove ações que desrespeitam o coletivo dos estudantes. O piquete é um instrumento de luta legítimo e que está presente na história dos trabalhadores. Sua função é inviabilizar, no todo ou em parte, o funcionamento regular de um serviço, sensibilizando as pessoas para um problema social. Não somos contra esse método de mobilização, no entanto, ele deve ser utilizado para agregar pessoas, e não para repeli-las com violência. Tais atos só fazem minar a unidade que precisamos nesse momento, e não contribuem em nada para nossa luta.

É importante perceber que este é um movimento nacional em defesa da Educação pública, gratuita e de qualidade. A greve já conta hoje com a adesão de 44 Universidades Federais. Não é coincidência também que ela ocorra num momento em que irrompem greves em todo o Brasil, na saúde, nos transportes, nas indústrias. Vivemos um tempo em que o Neoliberalismo avança sobre os direitos sociais e nos leva cada vez mais rápido em direção à barbárie. A precarização das Universidades é parte de um processo de precarização da vida como um todo. Temos o dever de dizer não a isso. Lutar por uma sociedade para além do Capitalismo é hoje mais que um ato de vontade, é um ato de esperança.●

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