Entrevista
concedida por Gizlene Neder a Victor Tiribás, via e-mail,
para A Folha do Gragoatá em
30 de abril de 2012.
V. Qual o sistema de gestão (hierarquias) e quem
controla a compra de livros e recursos da BCG?
G. Institucionalmente, a compra de livros e os recursos da BCG são
atribuição, desde a recente reformulação administrativa da UFF, da
Superintendência de Documentação. O sistema de bibliotecas da Universidade
ficou ligado diretamente à Reitoria. Até o ano passado, o sistema era gerido
pela antiga Pró-Reitoria de Assuntos Acadêmicos (que, no momento da criação da
universidade estava ligada ao ensino de graduação). Desde 1977, quando entrei
para o quadro de professores do Departamento de História da UFF, as
bibliotecárias solicitam as bibliografias das disciplinas, bem como sugestões
para compra de livros. O problema é que as verbas destinadas às bibliotecas nas
universidades brasileiras são insuficientes. De fato, a relação da comunidade
acadêmica com os livros e com as bibliotecas é de muito estranhamento; isso do
ponto de vista geral, uma vez que há as exceções para confirmar a regra. E nem
estou falando da prática de leitura de capítulos de livros reproduzidos em
cópias xerox...
V. Há um planejamento a longo prazo para a biblioteca?
G. Toda a administração do sistema de bibliotecas tem um planejamento
de longo prazo.
V. O que é a Comissão de Biblioteca? Ela está
atrelada a um planejamento próprio da BCG ou é uma iniciativa autônoma de
professores?
G. A Comissão de Biblioteca da BCG é uma iniciativa da Área de
História da UFF, que é uma articulação política e institucional afeita aos
professores. A Área de História da UFF é gerida por comissões, desde 1996. A
Comissão de Biblioteca é uma destas comissões. Agora, a política pró
ativa para melhoria das condições de biblioteca iniciou-se em 1993, numa ação
liderada pelo Programa de Pós-Graduação em História; com a participação do
antigo Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Ciência Política (isso antes
das duas áreas separarem seus programas de pós-graduação). Esta iniciativa
implicou, exclusivamente por parte do PPGH, uma aquisição sistemática de
livros, com os recursos da CAPES. A UFF não colocou um centavo nesta
empreitada. Entre 1993 e início de 2007, o PPGH adquiriu, heroicamente, cerca
de 10.000 livros. Tínhamos a BPH (Biblioteca de Pós-Graduação em História) numa
salinha do subsolo da BCG.
Em setembro de 2006, a plenária
do Departamento de História indicou a Comissão de Biblioteca que teria de
resolver o problema de espaço da BPH (e vários outros problemas. Mas o mais
grave de todos era a avaria do ar condicionado central da BCG que tornava o
ambiente insuportável para bibliotecários e usuários; o valor a ser despendido
para aquisição de um novo equipamento ultrapassava a casa de um milhão de
reais). A principal ideia dos professores que atuaram nesta Comissão era empreender
uma mudança de paradigma do nosso modo de trabalhar.
Estive na presidência desta
Comissão de setembro de 2006 até dezembro de 2011. Neste ínterim a Comissão que
era composta por Hebe Mattos, Marisa Soares, Marcelo Bittencourt e por mim,
ganhou outros reforços e atualmente conta com a participação de Adriane Baron
Tacla, Verônica Secretto e Larissa Viana. Hebe Mattos é a atual presidente da
Comissão, pois encontro-me afastada para pós-doutoramento.
V. Quais os ganhos que a BCG teve a partir da formação
desta comissão?
G. Vou enumerar os ganhos:
1. Mudança de paradigma da ação
da Comissão de Biblioteca: articulamos a ampliação da Comissão, convidando
todos os programas de pós-graduação usuários da BCG para integrar-se em uma
ação conjunta. Procuramos das bibliotecárias da BCG e propusemos um trabalho em
conjunto. Cedemos num ponto que as bibliotecárias consideravam tecnicamente
importante para a gestão da BCG: aceitamos a incorporação do acervo da antiga
BPH ao acervo da BCG. Com isso, resolvemos o problema de espaço; nossos livros
estão agora mais arejados e protegidos pelo sistema de controle central da
Biblioteca Central do Gragoatá. Sem contar que instalamos mais de 40 câmeras de
segurança.
2. Com a participação das
bibliotecárias da BCG, preparamos um projeto de modernização (das instalações e
do acervo da BCG). Este projeto é multidisciplinar e plurianual (2007-2013) e
intitula-se: Livros e Leituras
no Século XXI; um nome bem do campo dos estudos históricos. Mas o projeto
está fundamentado em uma rede que conta com mais de 40 doutores do campus do Gragoatá da UFF; e quando foi
necessário ampliar a base de apoio à rede para áreas fora das ciências humanas
e sociais para concorrer ao Edital de Bibliotecas da FAPERJ em 2010, contamos
com a adesão de pesquisadores de excelência da UFF nas áreas de Química,
Biologia, Matemática e Farmácia. A rede se empoderou e foi contemplada com
cerca de R$ 200.000,00. E não podemos deixar de mencionar o apoio que a projeto
vem recebendo da PROPPi. Humberto Fernandes Machado, professor do Departamento
de História da UFF, foi o Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação que em fins de
2007 impulsionou o projeto.
3. Com a mudança de
paradigma e com o projeto de modernização, passamos a concorrer aos editais
públicos para financiamento da BCG; esta a ação que estou chamando de atuação
pró ativa.
4. Em termos de verbas a
Comissão conquistou os seguintes recursos: a rede
“Livros e Leituras no Século XXI” captou, entre 2008 e 2010, R$ 3.077.200,00 de
verba do PROINFRA (Finep), do Edital Pró-Equipamentos da CAPES e do
Edital de Apoio ás Bibliotecas (FAPERJ) a saber:
a. PROINFRA-Finep
(2007-08): R$1.436.000,00 (troca do
ar condicionado central e aquisição de material bibliográfico importado).
Situação: O ar condicionado central foi instalado. Toda a lista de livros
preparada pelas professoras Larissa Vianna e Adriene Baron Tacla, com as
sugestões de todas as áreas de Ciências Humanas da UFF, já está sendo adquirida
e catalogada. A PROPPi autorizou a liberação de R$ 360.000,00 para a compra de
livros e janeiro de 2011 e que começou a ser comprada em janeiro de 2012; o que
totaliza aproximadamente 4.000 livros.
b. Pró-Equipamentos/CAPES
(2008): R$175.000,00 (compra de 50
computadores).
Situação: 12 computadores foram distribuídos junto ao processamento
técnico da BCG e 38 estão instalados na Sala de Pesquisadores (4º. Andar),
ligados em rede. O NDC colocou três técnicos junto à Sala de Pesquisa da BCG
para auxiliar o acesso às bibliotecas digitais e ao Portal de Periódicos da
CAPES. Todos os pesquisadores podem obter ajuda para acessar as bibliotecas
digitais recém-adquiridas e o Portal de Periódicos da CAPES.
c. Proex/CAPES-Programa de Pós-Graduação em História (2009):
R$ 23.000,00 (para aquisição de
bancadas para os computadores; rede elétrica e cadeiras para a Sala de Pesquisa
da BCG).
d. Proex/CAPES - Programa de Pós-Graduação em História da UFF:
R$ 26.000,00 (Aquisição e catalogação de material bibliográfico.
e. PROINFRA-Finep
(2008-09): R$ 920.000,00. (para
compra de livros importados e nacionais).
Situação: a verba seria liberada em 2011.
Em 2008 e 2009 o PROINFRA-Finep contemplou R$ 1.190.000,00 (um milhão e cento e
noventa mil reais) para compra de livros. Com os R$ 360.000,00 já autorizados
pela PROPPi, restam-nos R$
830.000,00 para compra de novos livros para a BCG, da verba da FINEP, em 2012.
f. Pró-Equipamentos/CAPES (2009):
R$ 45.000,00 (para instalação de 40
câmeras de segurança, scanners e impressoras para a BCG).
g. Edital de Bibliotecas-FAPERJ (2010):
R$199.200,00) - para assinatura de
coleções de duas bibliotecas digitais: E-brary e Coleções
Arts & Sciences II e IV-VIIIdo JSTOR, que
ainda não foram assinadas pelo Portal de Periódicos da CAPES; além da compra de
livros de Biblioteconomia, tendo em vista a modernização dos serviços de
biblioteca da UFF).
Situação: JSTOR já está contratado e em
pleno uso. E-brary está contratado e disponível para uso desde abril de 2011.
Breve histórico relacionado às principais
aquisições bibliográficas de 2010: Em 2010, o fortalecimento das ações
destinadas à implementação do projeto plurianual implicou a ampliação da rede
de pesquisadores para outras áreas de conhecimento (Matemática, Farmácia, Biologia
e Química, sempre sob a liderança da Área de História), tendo e vm sta a
adequação institucional do edital da FAPERJ para bibliotecas; captou as
seguintes verbas: 1) através do Edital de Bibliotecas-FAPERJ - 2010 –
(R$199.200,00) - para assinatura de coleções de bibliotecas digitais: E-brary
(com a compra de livros de ciências humanas e de farmácia), CRC (livros de
matemática, farmácia e biologia) e as Coleções Arts & Sciences II e IV-VIII
do JSTOR, que ainda não foram assinadas pelo Portal de Periódicos da CAPES;
além da compra de livros de Biblioteconomia, tendo em vista a modernização e
melhoria dos serviços de biblioteca da UFF. Com as assinaturas dessas
bibliotecas digitais, disponibilizamos a coleção completa de 803 periódicos (abarcando mais de
30 áreas de pesquisa) e 470 novos títulos de ciências humanas ao acervo da BCG,
afora cerca de 200 novos títulos para atualização das bibliotecas de Biologia,
Farmácia e Matemática. O acesso
ao novo acervo do JSTOR já se encontra disponível desde dezembro de 2010. Os pesquisadores cadastrados podem
utilizar o acesso remoto através de senha pessoal e o acesso é aberto a todos
os computadores conectados na RedeUFF (Núcleo de Tecnologia da Informação
e Comunicação – NTI - http://www.nti.uff.br/redeuff.html ). E-brary está contratado e disponível para uso
desde abril de 2011; o acesso remoto à Ebrary exige que os pesquisadores se
cadastrem junto ao NTI para gerar senha de usuário – é o mesmo processo para o
acesso remoto (de qualquer computador, em qualquer lugar) ao Portal de
Periódicos da CAPES (Núcleo de Tecnologia da Informação e Comunicação – NTI - http://www.nti.uff.br/redeuff.html). Esta biblioteca digital é
assinada pela FAPESP para as bibliotecas das universidades paulistas e é
excelente.
h. Pró-Equipamentos-CAPES - 2010 –
(153.000,00 para instalação de equipamentos da sala de multimídia (7
computadores), 15 antenas wireless,
equipamentos de higienização da coleção de livros da BCG, um novo leitor de
microfilme digital para os pesquisadores e um scanner para digitalização de
teses).
V. Quais os planos atuais desta comissão? Já podemos
vislumbrar novos ganhos?
G. A Comissão de Biblioteca está concentrando seus esforços para a
aquisição dos livros impressos e digitais. Foi contemplada no novo edital da
FAPERJ (de 2012); só ainda não sabemos o montante, pois a FAPERJ ainda não
divulgou as cartas de concessão. A Comissão deverá concentrar sua atenção
na instalação de elevadores para os usuários que têm necessidades especiais.
V. Sabemos que a manutenção do sistema de
ar-condicionado foi um grande ganho tanto para os frequentadores quanto para a
conservação do acervo. Isto é suficiente para que a estrutura da biblioteca
permita uma boa conservação do acervo, ou ainda são necessárias melhorias?
G. Victor, acho que a lista dos equipamentos adquiridos contempla um
aparelho para higienização da coleção.
V. A conservação do acervo depende também,
majoritariamente, da atitude de seus usuários. Você crê que os estudantes
ultimamente estejam mais conscientes de sua função ou ainda é necessário um
trabalho maior de elucidação e mais incisivo de fiscalização?
G. Quanto à fiscalização, acho que temos de confiar
que as medidas técnicas tomadas pelas bibliotecárias são suficientes. Segundo
li num relatório, há no campo das ciências da informação um cálculo de
percentuais de perdas, danos e extravio. A BCG tem um percentual civilizado,
segundo me informou Ângela Isfrán, Chefe da BCG. Penso, contudo, que há
necessidade de um trabalho de maior conscientização para a preservação das
Coleções da BCG, enquanto um bem público. Mas também necessitamos de maior
conscientização dos estudantes e professores sobre a importância da biblioteca
da vida universitária de cada um. Gostaria muitíssimo que parássemos de fingir
que temos bibliotecas maravilhosas em nossas casas, suficientes para garantir a
formação humanista de qualidade que transmitimos aos estudantes. Isso até
pode ter acontecido com relativo sucesso até o momento presente. Não sei se
conseguiremos acompanhar as inovações que os tempos estão a exigir se seguirmos
neste padrão. Outro ponto sensível para a conscientização, e a Folha do
Gragoatá pode nos ajudar, é a necessidade de termos uma biblioteca
universitária atualizada e moderna, capaz de fazer frente à ampliação das vagas
na universidade pública. Sem varrer os problemas para debaixo do tapete,
sabemos que muitos de nossos alunos não têm como arcar sequer com os custos do
xerox. Portanto, precisamos que a BCG responda positivamente às necessidades de
seus usuários.
V. Como se deu a fusão do acervo de pós-graduação com
o de graduação?
G. Tranquilo e tecnicamente correto.
V. O sistema de catalogação (Argonauta) é
constantemente atualizado ou ainda existem livros que encontraremos referências
apenas nas fichas? Quão eficiente você considera este sistema virtual de busca?
G. As bibliotecárias não estão satisfeitas com o Argonauta. Fizeram
um projeto para a FAPERJ com o nosso apoio acadêmico, visando à aquisição de um
sistema melhor, mas infelizmente não fomos contemplados.
V. De que maneira alunos e professores podem
contribuir com o acervo da biblioteca?
G. Em princípio, penso que os usuários devem se dirigir às
bibliotecas em busca de novidades e de informação bibliográfica. Portanto, quem
tem de propor os títulos e fazer as aquisições é a área técnica.
Complementarmente e para garantir um norte seguro para as aquisições de
qualidade, as bibliotecárias recolhem os programas das disciplinas ministradas
pelos professores da UFF; listas de sugestões de livros e as citações bibliográficas
nos principais periódicos dos campos de saber afeitos à BCG; ou bibliografias
de seleção de pós-graduação – são algumas das práticas usuais para referenciar
as aquisições. Quem tiver interesse em propor títulos é só enviar para algum
dos membros da Comissão de Biblioteca que estamos preparando, em fluxo
contínuo, as listas a serem enviadas à BCG.
V. Como se dá a
incorporação de bibliotecas particulares doadas à BCG por professores,
pesquisadores, etc? Há uma política bem definida para a recepção delas?
G. Infelizmente, ainda não
temos condições de assegurar o recebimento de todas as coleções de livros de
particulares que nos forem doadas; sobretudo se forem muito grandes. Há uma
enorme carência de recursos humanos na BCG, e a catalogação fica prejudicada.
V. Qual a razão e como se deu sua iniciativa de
arrecadação de fundos para a aquisição de livros para a BCG? Neste caso, eles
passam pelo mesmo trâmite burocrático de compra de livros diretamente pela BCG,
ou há mais autonomia?
G. Os livros adquiridos com a verba do PPGH, por exemplo, foram
adquiridos diretamente, sem passar pela burocracia da UFF. Já o que adquirimos
pela verba da Finep (de 2008) só agora estão sendo adquiridos; mais de três
anos desde que fomos informados que fomos contemplados pelo edital PROINFRA da
Finep.
V. O que você acha de núcleos de pesquisa comprarem livros com verba
pública para acervo próprio, ou seja, disponíveis apenas para consulta dos
pesquisadores de tal núcleo?
G. Discordo desta prática. Penso que estas bibliotecas ficam mais
vulneráveis (sequer dispõe de bibliotecários); em algumas delas, os livros
ficam trancados; e a restrição para outros usuários dificulta a circulação do
conhecimento e as inovações nos campos científicos que a sociedade brasileira
necessita que produzamos. Se eu estivesse nos comitês que definem os critérios
e selecionam os projetos, eu incluiria cláusulas de obrigatoriedade de
comprovação de doação dos livros adquiridos com estas verbas para as
bibliotecas universitárias.
V. A razão desta compra individual está ligada a uma
maior facilidade em relação às compras efetuadas pela BCG?
G. Pode ser. Não acham que a FEC demorou muito a iniciar as compras
da verba adquirida em 2008 (com o empenho e a competência de nossa Comissão de
Biblioteca)? Para não falar do desgaste que foi a troca do ar condicionado
central (também contemplado no edital de 2008)?
V. O fato de tais núcleos não disponibilizarem seus
acervos na BCG não fragmenta uma luta conjunta de professores e alunos pela
melhoria do acervo? Vemos que no acervo da biblioteca não constam diversos
livros exigidos tanto nos cursos básicos (os livros clássicos) como nas provas
de mestrado, nas áreas de ciências humanas em geral. Isto se deve a que? Os
professores não são consultados regularmente quanto à compra de novos livros?
Eles enviam alguma lista com a bibliografia dos cursos de básico? Há alguma
equipe responsável pela pesquisa e compra de novos livros?
G. Acho que os professores acabam desistindo, pois tudo é muito
custoso e demorado. Se repararem bem, acho que a atual Comissão de Biblioteca e
nossas bibliotecárias mereciam medalhas de mérito em dois quesitos: paciência e
à perseverança.
V. Por fim, gostaria de saber qual o papel da reitoria
no suporte à BCG? Ele vem sendo cumprido?
G. Temos recebido apoio da PROPPi, como disse acima.