Há
poucas questões capazes de colocar um freio na pluralidade que decidimos ter
aqui na Folha. Não foi muito difícil mapeá-las: são as questões que envolvem a
disseminação de sofrimento imerecido. Entre elas, está a do machismo e o
preconceito de gênero, capaz de transformar metade da população em “minoria”.
Quando
decidimos elaborar uma edição voltada para a discussão de questões de gênero,
sabíamos que seria impossível adotar uma abordagem exaustiva da questão – o
tamanho de nosso jornal é insuficiente e, mais significativamente, a quantidade
de coisas que vem sendo produzida sobre o tema é infindável. Sendo assim, o
critério que escolhemos na seleção dos que escreveriam foi bastante
idiossincrático. Nossa equipe entrou em contato com pessoas que, sabíamos, se
dedicam a estudar este assunto e pedimos para que escrevessem sobre o que
quisessem dentro do grande conjunto dos “estudos de gênero”.
Os
resultados foram surpreendentes. Na parte reservada aos professores,
conseguimos contribuições de duas pesquisadoras com trajetórias e temas
completamente diferentes, mesmo se unidas por curiosidades semelhantes. A
primeira que convidamos foi a professora Rachel Soihet, do departamento de
História da UFF. Seu artigo traça a trajetória da historiografia sobre as
mulheres, mostrando sua evolução como objeto de estudo. Já Maria Díaz-Benítez,
antropóloga do Museu Nacional/UFRJ, explora a liberdade que sua área lhe
proporciona para falar sobre as mulheres em um ambiente pouco discutido: os
filmes pornôs. Díaz-Benítez explora as semelhanças entre os perigos e prazeres
do pornô e do sexo “normal”, lançando mão para isso de alguns conceitos que
criou para se aproximar de algo que para muita gente é completamente
estrangeiro.
Os
artigos da seção reservada aos alunos discutem várias das questões relacionadas
ao gênero. Sem que isso fosse pedido, todas eles se referem a aspectos da vida
cotidiana em que o machismo se faz presente: Luciana Vasconcellos discute as
cantadas de rua, ou street harassment, e
seu efeito sobre a capacidade das mulheres terem uma boa experiência com o
espaço público; Brena O’Dwyer fala sobre a representação de mulheres em filmes
de sucesso, como 50 tons de cinza, Jogos Vorazes e Crepúsculo.
O artigo de Juliana Streva funciona como uma apologia desta edição: se você tem
alguma dúvida sobre a necessidade de se discutir sobre feminismo... o texto de
Streva é um excelente começo para o leitor que vir a Folha e pensar “machismo?
Isso não existe”.
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